Eu mereço ter novas ideias a partir das suas...
Estava pensando hoje em como reaproveitamos e nos apropriamos de ideias alheias tão bem, que até pensamos que fomos nós quem a criamos. Ou a transformamos em algo que julgamos melhor ou mais criativo ou apenas diferente.
Nos sentimos confortáveis com a familiaridade que alguns textos ( orais, visuais, auditivos, escritos) nos trazem. E porque não aproveitar essa inspiração de outrem para treinar e desenvolver nossos textos?
O que é cultura de remix?
Você tem a sensação de já ter ouvido essa música, acha que já leu esse texto e pode jurar que já viu essa cena em outro filme. É provável que sim. Afinal, há quem defenda que tudo seja um remix. A cultura remix representa a era do compartilhamento, da adaptação e da disseminação de conteúdo. Nesse contexto, o que define o limite entre criatividade, inovação e originalidade?
Remixar significa combinar ou editar material já existente para produzir algo novo. A expressão “remix” tem origem nos anos 70 e foi utilizada quando DJs descobriram que era possível modificar a música depois de gravá-la. Hoje em dia, qualquer um pode ser remixador, transformando não só música, mas também fotos, vídeos e diversas outras plataformas de mídia e manifestações artísticas. Apesar desse termo ter nascido bem antes do surgimento da internet, foi com a ascensão da web que o remix ganhou força para se espalhar globalmente, dando origem a muitos dos memes que vemos atualmente.
De acordo com Pierre Levy, a cultura remix está diretamente relacionada à cibercultura que, entre outros fenômenos, cria mundos virtuais que "podem ser enriquecidos e percorridos coletivamente". Mas esse mundo coletivo de compartilhamento e apropriações não é uma terra sem lei.
Leia mais aqui:
Quem não lembra da música deliciosamente impregnante do Gotye?
Retextualização
Tem gente que também chama esse fenômeno de retextualização, olha só o que o blog retextualização nos diz:
Para Marcuschi (2001, p.47) a retextualização não é um processo mecânico, já que não se dá naturalmente no plano dos processos de reescrita e nem se trata da passagem de um texto supostamente ‘’descontrolado e caótico. ’’(o texto falado); trata-se da passagem de uma ordem para outra. Em aspecto de retextualização há um aspecto muito importante, que é a compreensão, para que não ocorram problemas de coerência.
Ainda de acordo com o autor, é preciso diferenciar retextualização de transcrição. Na retextualização há uma interferência maior e há mudanças, já no caso de transcrição, representa uma passagem do sonoro para o gráfico, que é uma primeira transformação. Pode-se compreender que os gêneros textuais estão freqüentes no cotidiano como uma boa sugestão para que se consiga entender como as ideias são repassadas ao público através de estratégias discursivas e práticas sociais nem sempre satisfatórias e condizentes. As grandes alterações identificáveis nos processos de retextualização são prova de manipulação da linguagem de quem detém o poder da mesma."
Podemos também entender retextualização a produção de um texto a partir de outro texto. Exemplo desse fenômeno seria, por exemplo, o hino nacional e uma paródia dele. Outro exemplo, na Literatura é um Poema de Fernando Pessoa – Autopsicografia – e uma versão retextualizada feita por outro escritor.
(TEXTO RETEXTUALIZADO)
Fonte: http://oblogdobrasilio.blogspot.com/2008/05/exemplo-de-pardia.html
(TEXTO ORIGINAL)
Hino Nacional
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heróico o brado retumbante,
E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte,
Em teu seio, ó Liberdade,
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve!
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formos
o céu risonho e límpido
À imagem do Cruz eiro re splandece. Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Pátria amada,
Brasil !
(TEXTO RETEXTUALIZADO)
Fonte: http://oblogdobrasilio.blogspot.com/2008/05/exemplo-de-pardia.html
(TEXTO ORIGINAL)
Autopsicografia
Fernando Pessoa
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
27/11/1930
Fonte: http://www.releituras.com/fpessoa_psicografia.asp , acesso em 02/11/2009
(TEXTO RETEXTUALIZADO)
Por que escrevo?
O escritor é um observador.
Observa tão atentamente
Que na escrita tem que expor
Tudo o que percebe à frente.
E ainda sabe ele que ao escrev er
De fugir da timidez é capaz…
Se cara a cara não consegue de ixar ver
Tudo o que seu coração traz…
E, enfim, nos textos que cria
(Com gosto doce, salgado ou azedo)
Está a sua mais profunda fantasia,
Toda sua emoção, todo seu medo.
Brincar com as letras é, com magia,
Levar seu mundo à ponta do dedo.
- Livremente inspirado no poema “Autopsicografia“, de Fernando Pessoa.
Esse cara é fantástico!
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