sábado, 26 de abril de 2014

Eu mereço ter novas ideias a partir das suas...


Estava pensando hoje em como reaproveitamos e nos apropriamos de ideias alheias tão bem, que até pensamos que fomos nós quem a criamos. Ou a transformamos em algo que julgamos melhor ou mais criativo ou apenas diferente.
Nos sentimos confortáveis com a familiaridade  que alguns textos ( orais, visuais, auditivos, escritos) nos trazem. E porque não aproveitar essa inspiração de outrem para treinar e desenvolver nossos textos?


O que é cultura de remix?


Você tem a sensação de já ter ouvido essa música, acha que já leu esse texto e pode jurar que já viu essa cena em outro filme. É provável que sim. Afinal, há quem defenda que tudo seja um remix. A cultura remix representa a era do compartilhamento, da adaptação e da disseminação de conteúdo. Nesse contexto, o que define o limite entre criatividade, inovação e originalidade?

Remixar significa combinar ou editar material já existente para produzir algo novo. A expressão “remix” tem origem nos anos 70 e foi utilizada quando DJs descobriram que era possível modificar a música depois de gravá-la. Hoje em dia, qualquer um pode ser remixador, transformando não só música, mas também fotos, vídeos e diversas outras plataformas de mídia e manifestações artísticas. Apesar desse termo ter nascido bem antes do surgimento da internet, foi com a ascensão da web que o remix ganhou força para se espalhar globalmente, dando origem a muitos dos memes que vemos atualmente.
De acordo com Pierre Levy, a cultura remix está diretamente relacionada à cibercultura que, entre outros fenômenos, cria mundos virtuais que "podem ser enriquecidos e percorridos coletivamente". Mas esse mundo coletivo de compartilhamento e apropriações não é uma terra sem lei.
Leia mais aqui:
Pois é gente, o remix está presente hoje em todas as esferas culturais, não podemos escapar dele não...
Quem não lembra da música deliciosamente impregnante do Gotye?


Retextualização


Tem gente que também chama esse fenômeno de retextualização, olha só  o que o blog retextualização nos diz:

"Os gêneros são formas estáveis de enunciados que possibilitam a intervenção e ação no mundo. Nas diversas situações cotidianas de um individuo, estão inseridos fatores a respeito do texto e da produção de texto, bem como a retextualização, por isso se faz necessário tornar o texto como uma unidade básica dos estudos lingüísticos. A retextualização está presente no cotidiano, dentre as mais diversas atividades anotação das aulas, uma pessoa contando alguma noticia. Retextualizar não é um ato mecânico, pois exige operações complexas e interferem no código e no sentido do texto-na forma e substância.
Para Marcuschi (2001, p.47) a retextualização não é um processo mecânico, já que não se dá naturalmente no plano dos processos de reescrita e nem se trata da passagem de um texto supostamente ‘’descontrolado e caótico. ’’(o texto falado); trata-se da passagem de uma ordem para outra. Em aspecto de retextualização há um aspecto muito importante, que é a compreensão, para que não ocorram problemas de coerência.
Ainda de acordo com o autor, é preciso diferenciar retextualização de transcrição. Na retextualização há uma interferência maior e há mudanças, já no caso de transcrição, representa uma passagem do sonoro para o gráfico, que é uma primeira transformação. Pode-se compreender que os gêneros textuais estão freqüentes no cotidiano como uma boa sugestão para que se consiga entender como as ideias são repassadas ao público através de estratégias discursivas e práticas sociais nem sempre satisfatórias e condizentes. As grandes alterações identificáveis nos processos de retextualização são prova de manipulação da linguagem de quem detém o poder da mesma."

Podemos também entender retextualização a produção de um texto a partir de outro texto. Exemplo desse fenômeno seria, por exemplo, o hino nacional e uma paródia dele. Outro exemplo, na Literatura é um Poema  de Fernando Pessoa – Autopsicografia – e uma versão retextualizada feita  por outro escritor.

 Hino Nacional

Ouviram do Ipiranga as margens plácidas

De um povo heróico o brado retumbante,

E o sol da Liberdade, em raios fúlgidos,

Brilhou no céu da Pátria nesse instante. 

Se o penhor dessa igualdade

Conseguimos conquistar com braço forte,

Em teu seio, ó Liberdade,

Desafia o nosso peito a própria morte! 

Ó Pátria amada,

Idolatrada,

Salve! Salve! 

Brasil, um sonho intenso, um raio vívido

De amor e de esperança à terra desce,

Se em teu formos

o céu risonho e límpido

À imagem do Cruz eiro re splandece. Gigante pela própria natureza,

És belo, és forte, impávido colosso,

E o teu futuro espelha essa grandeza. 

Terra adorada

Entre outras mil,

És tu, Brasil,

Ó Pátria amada!

Dos filhos deste solo és mãe gentil

Pátria amada,

Brasil !

(TEXTO RETEXTUALIZADO)

Fonte: http://oblogdobrasilio.blogspot.com/2008/05/exemplo-de-pardia.html

(TEXTO ORIGINAL)

Autopsicografia



 Fernando Pessoa



O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

27/11/1930

Fonte: http://www.releituras.com/fpessoa_psicografia.asp , acesso em 02/11/2009 

(TEXTO RETEXTUALIZADO)

Por que escrevo?

O escritor é um observador.

Observa tão atentamente

Que na escrita tem que expor

Tudo o que percebe à frente.

E ainda sabe ele que ao escrev er

De fugir da timidez é capaz…

Se cara a cara não consegue de ixar ver

Tudo o que seu coração traz…

E, enfim, nos textos que cria

(Com gosto doce, salgado ou azedo)

Está a sua mais profunda fantasia,

Toda sua emoção, todo seu medo.

Brincar com as letras é, com magia,

Levar seu mundo à ponta do dedo.

- Livremente inspirado no poema “Autopsicografia“, de Fernando Pessoa.


Esse cara  é fantástico!



 Adorei ver a evolução da campanha do #eunãomereçoser estuprada, de como ela reverberou na sociedade e gerou vários remix. Vamos acompanhar?




















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